Sobre desacumular

Acho que a palavra seria desacumular.

Desde muito nova eu aprendi a ser possessiva, acumulando camisetas velhas, bonecas antigas, cadernos de anos passados da escola, acumulando pessoas.

Tantas pessoas. Formando montanhas de gente que eu sequer gostava.

Tentando fazer as coisas darem certo quando elas claramente estavam desabando sobre minha cabeça.

Eu não tive nenhum insight brilhante, eu só queria que fosse aquele cara, naquele ano, com aqueles amigos. Tudo da maneira como eu queria, no meu tempo. Tudo meu. Mas vem a vida e te mostra que as coisas quase nunca são nossas.

As coisas, bom, elas só são, existem independente da nossa vontade, não podemos abraçar as pessoas e seus destinos, não podemos entrelaçar nossa felicidade e saúde mental a relações.

Relações são construídas por pessoas e pessoas estão em mudança, o tempo, todo.

Nós vivemos em tempos líquidos em que acumular é um verbo em constante desuso.

Então eu aprendi a abrir mão.

Do controle.
Das pessoas.
Do destino (se é que ele de fato existe).

Eu permiti a mim mesma levar nas costas apenas as coisas que realmente queria e que realmente me pertenciam.

A vida afinal é isso: Uma nuance eterna entre pegar e largar, cair e levantar, entre um olá e um adeus.
Desacumular. Desapegar. Deixar.

0 comentários:

Postar um comentário